As Redes de Solidariedade estão desde o início da pandemia travando uma batalha para fazer com que milhares de pessoas não sucumbam à fome e ao coronavírus. Ao mesmo tempo em que se mobilizam por recursos para amenizar a fome, seguem na luta em defesa de políticas públicas e para derrubar as estruturas que nos colocaram no abismo das desigualdades sociais.
Em abril de 2020, o SOS Corpo (membro da AFM) publicou uma reportagem contando como coletivos e organizações dos movimentos sociais estavam levando à frente as ações de solidariedade à quem se encontrava em risco iminente diante da pandemia do coronavírus. Um ano depois, ainda são os movimentos sociais que têm lutado contra a pandemia e o pandemônio, através de ações políticas e de solidariedade, tentando a cada dia, ajudar quem mais tem estado em situação de desproteção social diante da maior crise sanitária, social e política dos últimos tempos. Num ano de tantas perdas e de um cenário sombrio, foram as ações de solidariedade que puderam ascender a esperança na luta.
Os abismos gerados pelas desigualdades sociais estruturadas pelo capital racista patriarcal, se ampliaram de maneira devastadora. Os efeitos da crise econômica já vinham deixando um rastro de escassez de postos de trabalhos formais, levando a milhares de brasileiras e brasileiros à informalidade. Fechamos o ano de 2020 com 14 milhões de pessoas desempregadas, segundo divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE. A crise do capital e a recessão econômica que enfrentamos desde 2015, agravado no cenário pós-Golpe de 2016, fez com que o desemprego e a fome voltassem a aumentar no país, especialmente nos últimos dois anos, somando ao desmonte das políticas e conselho no âmbito do direito à segurança alimentar e nutricional. As mulheres representaram 65,6% das que perderam o emprego formal durante a pandemia, sem contar as trabalhadoras informais que ficaram sem renda durante o período.
Hoje, 19.1 milhões de pessoas estão passando fome, o que representa 9% da população brasileira. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PESSAN), e alerta para os números vertiginosos de insegurança alimentar que já atingem 116 milhões de pessoas. A situação do país é de crise humanitária pelo contexto de crise pandêmica, mas também pela opção de um modelo econômico que vem destituindo direitos, de uma política de austeridade fiscal que retira os investimentos das políticas públicas, prioriza o capital estrangeiro e privado através das privatizações e que tem gerado o resultado de desumanização crescente que se potencializou com a chegada da pandemia.
Nesse especial, conversamos com pessoas que estão na construção de quatro diferentes iniciativas que têm agido, nestes últimos 16 meses de pandemia, em Redes de Solidariedade. Atuando principalmente comunidades já empobrecidas por conta das desigualdades estruturais marcadas por classe, gênero e raça, movimentos sociais e articulações como o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST), a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, o Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE) e a Articulação Recife de Luta apresentam dimensões importantes na construção de uma revolução solidária – mais do que necessária – para o processo de transformação social que defendemos.
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> A Solidariedade como Política Feminista
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