Serão mais de 2 mil reunidas em Brasília, de 9 a 13 de agosto, realizando o I Encontro e a I Marcha de Mulheres Indígenas no Brasil. Na sequência elas se unem à Marcha das Margaridas, fortalecendo o movimento das mulheres do campo, das águas, das florestas.
Foi no dia 25 de abril deste ano, durante a efervescência do 15ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que as mulheres indígenas, diante de milhares de líderes dos povos tradicionais, anunciaram ter deliberado em assembleia sua pauta prioritária em defesa da mãe de todas as lutas. “Território: nosso corpo, nosso espírito” é o tema do calendário de ações das mulheres de povos originários que terá início em 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, e seguirá até dia 13, em Brasília, com continuidade na Marcha das Margaridas.
A proposta é construir, entre os dias 9 e 12 de agosto, um grande encontro com 2 mil representantes de várias etnias brasileiras, o “Fórum Nacional das Mulheres Indígenas”, para discutir questões levantadas durante a plenária das mulheres no ATL. Na sequência, elas realizam Marcha das Mulheres Indígenas, no dia 13 de agosto, e participam da Marcha das Margaridas, no dia 14. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) comenta que será possível “dar visibilidade às ações das mulheres indígenas, discutindo questões inerentes às suas diversas realidades, reconhecendo e fortalecendo os seus protagonismos e capacidades na defesa e na garantia dos direitos humanos, em especial o cuidado com a mãe terra, com o território, com o corpo e com o espírito”.
A parceria com a Marcha das Margaridas é um marco de unidade e fortalecimento da luta das mulheres do campo, das águas e das florestas, que precisam aliar forças para combater o projeto econômico do governo Bolsonaro (PSL), cujo objetivo é atender unicamente aos poderosos interesses financeiros de corporações empresariais do agronegócio e da mineração, imprimindo um ritmo desenvolvimentista ao país. Bolsonaro está disposto a ir às últimas consequências para, se possível, extinguir os direitos dos povos indígenas brasileiros às terras tradicionalmente ocupadas. Entre as ações do governo estão a liberação recorde de agrotóxicos, ataque a direitos e mecanismos de proteção de povos originários, iniciativas legislativas anti-indígenas voltadas a suprimir os direitos fundamentais indígenas, tentativa de municipalização e, consequente, desmantelamento da política nacional de saúde indígena, além de fortalecimento do discurso de que as questões ambientais devem ser flexibilizadas em prol do desenvolvimento econômico.
Violência contra indígenas
O Brasil é um lugar perigoso para líderes indígenas, ativistas comunitários e ambientalistas que lutam pela proteção de seus lares e territórios dos efeitos da mineração, do agronegócio e de outras atividades que ameaçam seu modo de vida. Nas últimas três décadas, mais de mil indígenas foram assassinados/as no Brasil, segundo levantamentos do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Cada uma dessas mortes foi detalhada na plataforma Caci (Cartografia de Ataques Contra Indígenas) , um mapa interativo georreferenciado que lista os assassinatos registrados até 2017 pelo CIMI e CPT, com informações relevantes relacionadas aos assassinatos. Analisando o contexto de muitas mortes, é possível verificar que vários casos estão relacionados com a disputa fundiária. Os organizadores ressaltam que esse levantamento capta apenas uma fração das mortes violentas de indígenas.
O Estado do Mato Grosso do Sul concentra pelo menos metade dos homicídios detectados pela Caci. Em 2017, três dias após terem ocupado o território Toro Passo, em Caarapó, no Mato Grosso do Sul, em junho, os Guarani-Kaiowá foram atacados a tiros por um grupo de cerca de 70 produtores rurais e funcionários da região. Segundo notícias da Agência Estado, o agente de saúde Cloudione Rodrigues Souza, um guarani-kaiowá de 26 anos, foi morto no ataque. Pelo menos outros cinco indígenas foram hospitalizados por terem sofrido ferimentos de arma de fogo, entre eles uma criança de 12 anos. O assassinato de Souza foi resultado de conflitos em torno da demarcação de terras.
Ainda hoje há conflitos com ruralistas na comunidade de Caarapó. Quem denuncia é a líder, Kunã Apyka Rendy Ju, também conhecida como Janete Guarani-Kaiowá. Ela conta que territórios, rios e até mesmo nascentes estão sendo pulverizadas com agrotóxicos por fazendeiros e ruralistas. “Estive na Alemanha denunciando essa situação e o descaso do Estado brasileiro em relação à pauta indígena. Os ruralistas estão organizados e compõem o governo, que obviamente tem interesse na liberação dos agrotóxicos proibidos no exterior. As pulverizações de veneno estão sendo feitas para além dos terrenos de soja, estão invadindo as comunidades indígenas e fazendo nosso povo adoecer, intoxicados. As crianças e mulheres são as mais afetadas. E quando nos mobilizamos para denunciar, somos criminalizados”, relata Janete.
As ações do movimento feminista indígena é para intensificar a luta em defesa territórios ameaçados pelo modelo de desenvolvimento predador do governo brasileiro. No ATL, diferentes etnias denunciaram os propósitos governamentais de exterminar a população indígena, tal qual fizeram “com os nossos ancestrais no período da invasão colonial, durante a ditadura militar e até em tempos mais recentes, tudo para renunciarmos ao nosso direito mais sagrado: o direito originário às terras, aos territórios e bens naturais que preservamos há milhares de anos e que constituem o alicerce da nossa existência, da nossa identidade e dos nossos modos de vida”, explicitado no documento final do 15º ATL.
Financiamento colaborativo
É possível apoiar a ida das mulheres indígenas à Brasília. Tal qual as Margaridas, as indígenas lançaram uma campanha online com o intuito de arrecadar recursos para garantir o transporte e alimentação das mulheres que estão se mobilizando em cada estado para marcar presença em Brasília. Apoie a campanha fazendo doações de qualquer valor através da vakinha virtual.
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