A negação do habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal e a prisão de Lula marca uma nova fase do golpe que estamos vivendo no Brasil. Ela começa com a intervenção militar no Rio de Janeiro e a orquestrada execução de Marielle Franco. E não vai terminar de forma simples.
Em 6 de abril de 2018 o dia amanheceu mais tenso do que ontem. A nossa luta cotidiana pela sobrevivência se aprofunda. Além do receio permanente da violência no transporte público e o desalento que já impede de sair em busca de emprego, estamos vendo se agravar a situação política no país. O crescimento da onda fascista na sociedade e o aprofundamento do golpe que já dura dois anos, exige da gente coragem pra seguir lutando. Em muitos momentos de encontro dos movimentos sociais nestes últimos anos, especialmente aqueles que congregam as mulheres, a juventude negra e o povo pobre de periferia e dos territórios rurais usamos uma frase que representa a força histórica de nossas lutas “existimos porque resistimos”.
A negação do habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal e a eventual prisão de Lula marca uma nova fase do golpe que estamos vivendo no Brasil. Ela começa com a intervenção militar no Rio de Janeiro e a orquestrada execução de Marielle Franco. E não vai terminar de forma simples. Tudo indica que a simbologia construída em torno de Lula tenha força suficiente para, neste momento, aprofundar a polarização entre a direita fascista e ultra-neoliberal e o centro-esquerda na sociedade brasileira, num contínuo que tem muitas matizes políticas de um lado, de outro e além.
Não está em questão hoje apenas as nossas corretas críticas ao padrão predominante nos governos Lula e Dilma que importaram-se pouco com os modos de vida que resistem aos seus megaprojetos de desenvolvimento. A gente viu a oportunidade histórica de ter um representante da classe trabalhadora no governo se esvair ao não colocar no centro da política a força da organização popular. É preciso aprender com a história. Hoje, a encruzilhada dos riscos de ruptura total da institucionalidade por uma ditadura militar ou civil articulada à forças criminosas, exige fazer a escolha pela resistência. Ainda que alguns sigam apostando apenas na saída eleitoral, não é mais possível defendê-la sem a expressão das ruas.
Nós estamos manifestando a nossa indignação face à Constituição rasgada. Defendemos o direito de defesa de Lula e da multidão negra que padece encarcerada. Em todo o Brasil os movimentos sociais e a esquerda partidária mobilizam-se para ocupar as ruas. Em São Bernardo do Campo Lula resiste à prisão graças à força da organização popular. É esta força política que está cercando o sindicato dos metalúrgicos, fazendo atos em todas as capitais e defendendo o direito de Lula ser candidato. O que está em jogo é muito maior que um governo que terminou e uma articulação de candidatura sem fronteiras políticas vinculadas aos nossos sonhos. Para nós, o que está em jogo é defender um Estado garantidor de direito, e, neste momento, a realização de eleições diretas, a construção de um ambiente no qual seja possível seguir lutando.
A nossa luta feminista é pela anulação das medidas do governo golpista que promoverão a regressão de direitos. É também pelo direito de continuar lutando. O movimento feminista estará nas ruas em defesa da democracia e dos direitos, sempre a partir de uma perspectiva de luta capaz de enfrentar a dominação e exploração patriarcal, racista e capitalista. Sigamos na resistência. Contra o golpe! Pela democracia! É pela vida das mulheres!