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Quem Mandou METRALHAR Marielle?

Hoje, 14 de março, completa-se um ano da execução sumário de uma vereadora lésbica, de pele negra e moradora da favela da Maré. As quatro balas certeiras que atingiram o rosto de Marielle são reflexos das balas “perdidas” que continuam a dizimar a população negra e periférica. Suspeitos foram presos, mas quem mandou metralhar nossa esperança?

Artigo do Sos Corpo, membro do AFM.

É a troco de muita bala que se faz política no Brasil. Era 14 de março de 2018. Foram 13 disparos para matar Marielle Franco através do vidro do carro em que o motorista Anderson Gomes conduzia a vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL e sua assessora, Fernanda Chaves, para casa. Quatro tiros atingiram-na no rosto. Três acertaram o motorista. Outras nove cápsulas foram encontradas no carro. Execução. A arma do crime? Uma sub-metralhadora HK-MP5, empunhada pelo atirador de elite ex-integrante do grupo do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da Polícia Militar, também conhecida como Caveirão. Hoje lembramos que Marielle continua a representar o levante da favela contra a guerra racista das milícias, das polícias, das políticas.

A submetralhadora HK-Mp5, a arma usada para matar Marielle, foi desenvolvida na década de 60 pela empresa alemã Heckler & Koch, e é amplamente usada por equipes de elite da Polícia Militar brasileira (Bope e Batalhão de Choque), pelo Exército Brasileiro e pela Polícia Federal. Motorista e Atirador foram presos, mas quem mandou metralhar Marielle Franco?

Antes de morrer, ela denunciou três assassinatos de jovens negros na favelas do Acari, Manguinhos e Jacarezinho. Bala perdida em tiroteio e auto de resistência, essas são as duas explicações oficiais dos policiais em resposta às chacinas que eles provocam nas comunidades. Foi no sapatinho que os agentes chegaram com a promessa de segurança para o comércio e moradores, cobrando uma taxa pelo “serviço extra”. Logo, cobram pela entrada, circulação e distribuição de outros serviços, como gás, água, internet. Devagarzinho se transformaram em grupo de extermínio e passaram a controlar o Rio de Janeiro, disputam o controle das associações de bairro, terras e também do tráfico.

Um levantamento recente feito pelo The Intercept Brasil, com base em informações do Disque Denúncia, mostra que, das 6.475 ligações anônimas que o serviço recebeu em 2016 e 2017 – referentes às atividades de traficantes e paramilitares na capital –, 65% delas denunciam milicianos. Marielle foi relatora da CPI que indiciou, em 2008, mais de 200 pessoas por envolvimento com milícia, entre eles sete políticos.

A milícia, diferente do tráfico, tem um braço nas armas, outro na política. No Rio de Janeiro, por exemplo, a milícia já deixou de ser um poder paralelo, ela é o próprio Estado. Em janeiro de 2019, a operação “Os Intocáveis” prendeu integrantes da milícia que opera em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um dos alvos da operação foi o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de chefiar a milícia de Rio das Pedras e integrar o grupo de extermínio Escritório do Crime – atualmente investigado pela morte de Marielle Franco. Sua mãe e sua esposa já trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Flávio também havia homenageado Adriano com a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Alerj. As ligações da família Bolsonaro com a milícia são públicas: foram declaradas, por meio de entrevistas, homenagens, títulos públicos, cargos de assessoria parlamentar, empréstimos, vizinhança e até relações amorosas entre filhos.

Leia mais sobre o caso Marielle Franco, atuação das milícias e guerra às drogas: soscorpo.org/quem-mandou-metralhar-marielle/