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Nas ondas do rádio

Todo sábado elas vão ao ar em um programa feito por feministas para as mulheres e homens do sertão de Pernambuco. Saiba mais sobre o MULHERES DO SERTÃO na entrevista com Vera Guedes. Leia, comente, compartilhe! Veja ao final como acessar.

Por: Carla Gisele Batista*. Originalmente publicado aqui.

Vera, pra começar, nos conte um pouco da sua trajetória de militância e da aproximação com o sertão.

Vera: A minha militância de fato começou no bairro de Casa Amarela, que é um bairro da Zona Norte do Recife. Mais precisamente no Morro da Conceição. Eu nasci nesse lugar e entrei pros movimentos, primeiro pro movimento de igreja, com 12 anos. Era na época em que as igrejas estavam desenvolvendo nos bairros populares as comunidades eclesiais de base, inspiradas na teologia da libertação e eu entrei pro grupo de jovens. Como foi que o sertão entrou na minha vida? Eu ainda não tinha começado a trabalhar no SOS Corpo, instituição feminista de Recife aonde eu atuei durante alguns anos e que tinha uma parceria com o Grupo de Mulheres do Morro da Conceição. Minha formação feminista foi feita, basicamente, pelas pessoas desta organização. Então eu fui convidada por duas companheiras para conhecer o sertão. Desenvolvíamos um projeto sobre prevenção em saúde. Tínhamos uma experiência lá no Morro e tinha também uma experiência aqui no sertão. A primeira vez que eu vim pro sertão foi com duas educadoras: Solange Rocha e Carla Batista. Vim observar, vim conhecer, ver… conheci as mulheres… e pronto! Quando eu fui ser educadora do SOS Corpo o sertão passou a ser uma das áreas aonde eu trabalhava. Então foi aí. Faz uns 20 anos que eu trabalho no sertão. E eu me apaixonei pelo sertão. Pelos movimentos que existem aqui na região, pela força do povo, pela generosidade, pela diferença geográfica do lugar em que eu nasci. Foi isso!

E quanto ao programa, quem são os/as responsáveis por ele?

O programa é produzido pelo Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP) em parceria com o Fórum de Mulheres do Araripe – FMA. Quem faz a apresentação e a produção geralmente somos eu e a Gésia, que é coordenadora do FMA, que é parte do Fórum de Mulheres de Pernambuco. Quando uma de nós não pode, convidamos uma outra pessoa do movimento de mulheres para assumir. Ninguém é profissional da área de comunicação. São diversas as profissões. Eu, como dizem agora, sou uma comunicadora popular. Eu sou da área de educação. Ela é agente comunitária de saúde.

Como foi que ele começou?

O Programa MULHERES DO SERTÃO não é uma iniciativa só do CNMP. Ele vem de uma experiência que as mulheres daqui do sertão já tinham realizado há alguns anos atrás, com um pequeno financiamento, quando ficou um ano no ar. Depois, eu já morava aqui, conseguimos para o Grupo de Mulheres Jurema um projetinho que sustentou por mais um ano o horário na rádio. Neste período fizemos outro projeto – eu já trabalhava como educadora do CNMP – que incluía o programa de rádio como uma das atividades, para não perder o horário. Aí estruturamos  para ele ser como é hoje. Já está no ar ha 4 anos seguidos. É um programa que só toca música na voz de mulheres.

Fale mais sobre o formato do programa.

O formato é assim: o programa tem 1 hora. Tem sempre o/um tema do dia, alguém que entenda do tema falando a respeito. Não precisa ser necessariamente uma especialista e a participação pode ser ao vivo ou por áudio. E tem música. Vamos intercalando as nossas conversas com música. Tocamos uma base de 3 músicas a cada programa. Fazemos uma pesquisa, procurando tocar música de todas as regiões, estilos, mas gostamos de tocar o que as rádios geralmente não tocam. Tocamos muita MPB,  músicas do movimento de mulheres e  muita gente que não está aí na mídia direto.

Quais são os temas que costumam abordar?

Já fizemos programas falando da legalização do aborto, da feminização do HIV/AIDS, da humanização do parto, conjuntura política, eleições, 8 de março, impacto das reformas, a reforma da previdência, enfim, tudo o que está em debate na atualidade tentamos pautar. Já falamos também de doenças como câncer, tuberculose e por aí vai. Sempre discutimos questões que achamos pertinentes na área de defesa dos Direitos Humanos, prioritariamente de defesa dos direitos das mulheres.  Ele tem uma perspectiva feminista, até por ser apresentado por duas ou mais feministas.

Como tem sido a receptividade ao MULHERES DO SERTÃO?

A rádio à qual o programa é vinculado é uma das mais ouvidas da região. Principalmente pela zona rural. O nosso programa tem uma receptividade muito boa. A gente recebe muito retorno de homens também. Mas muito mais de mulheres. Sempre que a gente está no ar – a rádio tem um telefone que a gente fica divulgando durante o programa – as pessoas ligam pra parabenizar ou pra trazer alguma questão. A gente também monitora pelo zap, além da contagem da audiência que a própria rádio faz. O alcance da rádio vai além da região do Araripe, chega a Salgueiro e Petrolina, por exemplo.  Como vamos ao ar no dia da feira do município, temos muito retorno também na feira. Muita gente se encontra conosco e dá os parabéns, diz que gostou do tema.

Quais são os planos para o futuro?

Meus planos para o futuro são de que a gente possa permanecer com o programa de rádio para além da existência do projeto que eu trabalho, né? Porque projeto tem um tempo. Estamos no segundo ano deste projeto. O programa está garantido até o final do ano que vem (2020). Mas a perspectiva de futuro é que mesmo que eu volte a morar em Recife ou vá pra outra cidade, o programa continue andando com suas próprias pernas. Como o movimento de mulheres aqui em Ouricuri é muito orgânico, autônomo e tem muita gente disposta a colaborar com o movimento, eu acho que o programa tem a possibilidade, mesmo que o projeto que o financia acabar, de continuar como instrumento de fortalecimento do movimento de mulheres da região.

Fica o convite para conhecer: MULHERES DO SERTÃO vai ao ar todos os sábados, de 11 às 12 horas, pela VP FM. Ele pode ser também acessado online (Sistema Grande Rio, Radio Voluntários da Pátria, Ouricuri) e por aplicativo. Para terminar eu e a Vera oferecemos a você a música “Viverei” da Ana Cañas:

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*Carla Gisele Batista é historiadora, pesquisadora, educadora e feminista desde a década de 1990. Graduou-se em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e fez mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia (2012). Atuou profissionalmente na organização SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia (1993 a 2009), como assessora da Secretaria Estadual de Política para Mulheres do estado da Bahia (2013) e como instrutora do Conselho dos Direitos das Mulheres de Cachoeira do Sul/RS (2015). Como militante, integrou as coordenações do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Articulação de Mulheres Brasileiras e da Articulación Feminista Marcosur. Integrou também o Comitê Latino Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos das Mulheres (Cladem/Brasil). Já publicou textos em veículos como Justificando, Correio da Bahia, O Povo (de Cachoeira do Sul).