“Pandemia e Pandemônio: quais as saídas para a crise?” foi o tema do debate nacional realizado pelo SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia e que reuniu representantes do movimento indígena, do movimento negro, do movimento sindical, da luta por moradia, de defesa da agricultura familiar e pela democracia, para discutir sobre as saídas que estão sendo construídas pelos movimentos sociais para enfrentar as desigualdades aprofundadas pela Covid-19 e pela política genocida do governo federal.
A grave situação política, económica, social e sanitária que vive o Brasil foi tema da análise de conjuntura realizadas pelos movimentos sociais brasileiros em debate online realizado no dia 09 de junho de 2020 pelo SOS Corpo. Tradicional na cidade do Recife, as rodas de análise de conjuntura realizadas pelo Instituto através de seu Centro Cultural Feministas ganharam sua versão online no contexto da pandemia do coronavírus.
Para o debate estiveram presentes Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil; José Antônio Moroni, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político; Vilma Reis, pela Coalizão Negra Por Direitos; Rud Rafael, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; e Adriana do Nascimento, da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco, para se juntarem à Carmen Silva, do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, numa análise da situação e para apresentar quais são as possíveis saídas para a esta crise.
“O contexto social que o Brasil enfrenta, agravada pelo vírus do Covid-19, de pandemia é causado pelo pelo sistema que vivemos, um sistema capitalista, patriarcal e racista. Contexto grave da pandemia no país é aprofundado pela gestão genocida do governo Bolsonaro”, explicou Carmen Silva, que fez a mediação do debate. O Brasil amarga a morte de mais de 48 mil pessoas, em sua suma maioria negras, indígenas, mulheres e pessoas em situação de extrema vulnerabilidade. São essas pessoas que estão em situação de calamidade diante de um estado de desproteção social e da ausência de política de governo que nos ajude a enfrentar a crise provocada pelo coronavírus.
Segundo Sônia Guajajara, da Associação dos Povos Indígenas do Brasil, sempre foi um desafio ser indígena no Brasil, da época da colonização aos dias de hoje, o que coloca a violência da política extrativista que avança sob os territórios indígenas menos durante a pandemia, como mais um alerta para as populações, mas que não é uma novidade.
“Para nós sempre foi um desafio ser indígena no Brasil, desde 1500, de enfrentar todos planos de desenvolvimento econömico que tem como base o extermínio dos povos indígenas. Para nós, nenhum ataque, nenhuma violência é novidade. É claro que nesse contexto do governo Bolsonaro tudo se acentua ainda mais, porque vivemos um governo declaradamente anti-indígena, anti-povo, anti-ambientalista, antidemocrático e que todos os dias mostra a sua face mais perversa, diante dos direitos sociais, coletivos, ambientais e dos direitos humanos. E mesmo em isolamento social, é importante a gente continuar se fortalecendo pelas alternativas que nós dispomos”, contou a liderança indígena, lembrando da realização do Acampamento Terra Livre, realizado durante o Abril Indígena e que este ano foi todo por transmissão online e que teve mais de 1 milhão e 500 mil acessos.
Mesmos com dificuldades, os movimentos têm ocupados as redes virtuais para continuar a luta e incidência política, através de debates e da realização de campanhas e manifestações, mostrando que mesmo no atual contexto é importante se manter na luta para pedir a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão e a realização de novas eleições, como explicou José Antônio Moroni, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.
Organização autônoma que reúne diferentes entidade e movimentos na luta em defesa da democracia no Brasil, a Plataforma tem levado a frente a campanha que pede o julgamento dos crimes cometidos pela chapa de Bolsonaro ainda durante a disputa eleitoral, que foi beneficiada com um esquema milionário de distribuição de notícias falsas e que está com investigação tramitando no Superior Tribunal Federal.
Segundo Moroni, “a saída é pôr fim ao governo, mas colocar fim também a tudo que ele representa e seu projeto político. Na história do Brasil, em momento de crise, a saída sempre foi muito mais pela conciliação do que pela promoção de rupturas. São saídas promovidas pelas elites. São processos de conciliação promovidos em uma sociedade tão desigual como a nossa, significa que essa elite vai continuar tendo o poder que tem. Precisamos conciliar entre nós, resistentes, qual ruptura queremos promover. «Não acho que o governo Bolsonaro é um elemento fora da curva na nossa cultura ou da nossa dinâmica social. Bolsonaro e tudo que ele representa é fruto da nossa estrutura social, política cultural das não rupturas feitas”, ressaltou o representante da Plataforma.
A democracia que queremos construir passa por mudanças radicais das estruturas que promovem e aprofundam as desigualdades sociais, como a estrutura racista que mantém-se em pleno vapor e cada vez mais incontrolável como um sustentáculo do sistema. A urgência da erradicação do racismo e da luta antirracista no Brasil foi colocada por Vilma Reis, da Coalizão Negra Por Direitos. De acordo com a feminista negra, as rupturas precisam ser feitas para que se rompa a permanëncia do poder de homens brancos, ricos, heterossexuais que mantém a dominação do estado patriarcal e racista com mãos de ferro.
“Nós mulheres negras vamos liderar esse debate, somos feministas sim graças às deusas e nós nos levantamos contra essa ordem patriarcal racista, de direita ou de esquerda, para mudar essa concentração política do poder. Nessa tarde de análise de conjuntura nacional também nos interessa trazer para o debate que um governo eivado de militares eleitos num processo fraudulento, não tem nenhuma capacidade de gerir o país diante da crise que estamos vivendo”, ressaltou Vilma Reis.
Assista ao debate:
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