A América Latina em convulsão, período de grande sofrimento e perplexidades, eu peço uma pausa para o café e os livros. Eles que podem ser grandes companheiros de uma vida, de viagens para outros mundos, de leituras que nos ajudem a compreender o contexto atual, que nos inspirem a lutar. E que bom que existem livrarias especializadas nos temas que mais nos interessam. Visitá-las deve estar na agenda de quem gosta de ler e sai por aí. Motivações a mais para uma militante que também ama a literatura.
Por: Carla Gisele Batista*. Originalmente publicado aqui.
Minha primeira experiência se deu em passagem por Sevilha, há alguns anos, quando saí em busca da Librería Relatoras, Calle Amargura, nº8 do bairro de Macarena. Não me esqueço da vitrine e os livros que trouxe ainda me acompanham. Feminismo para principiantes, de Nuria Varela, foi um deles.
A librería de Mujeres, em Buenos Aires, é outra destas pequenas maravilhas. Existe desde 1995 e é um destes lugares em que cada cantinho tem uma surpresa que aconchega e instiga. Assim é com o pequeno espaço dedicado às crianças, por exemplo. Situada na Pasage Rivarola, no Bairro de San Nicolás, é uma visita imperdível para quem vai àquela bela cidade, famosa pela quantidade de livrarias, hoje sofrendo redução em função da crise e/ou da preferencia pelos livros virtuais.
Em 2009 passou a ser também uma editora. Isto significa que passou a ter um catálogo próprio. Converso com sua presidenta, Carola Caride, que foi também uma das fundadoras ao lado de Piera Oria. Ela me conta que eram muito amigas das idealizadoras da Librería Mujeres de Madri, a mais antiga das livrarias dedicadas à produção de e sobre mulheres e feminismos. Muitas das que foram criadas em outras partes do mundo nasceram nela inspiradas.
Em Buenos Aires se organizam como uma associação civil sem fins de lucros, a Taller Permanente de la Mujer. Enfrentaram problemas, que felizmente agora estão sob controle. Contam com a contribuição de sócias, integrantes dos movimentos de mulheres e feministas, para a sua manutenção. Carola conhece profundamente a bibliografia e está atenta a lançamentos, sabe o que é importante ter no acervo e só trabalha com o que está transversalizado por gênero. Mas, apenas no idioma espanhol. Não espere encontrar nada em português ou inglês nas prateleiras. Eu tinha a segunda intenção de deixar o meu livro sobre a luta feminista pelo direito ao aborto no Brasil por lá. Poderia interessar a alguma pesquisadora, mas… voltei com ele na sacola, na qual acrescentei os títulos que mais me encantaram.
Visitar a livraria na web já é em si um passeio sensacional. Na página de abertura a história de sua fundação. E aí você poderá acessar o catálogo de um Centro de Documentação virtual, com mais de 8.000 títulos, incluindo esgotados.
Algumas delas possuem espaços para abrigar reuniões, lançamentos, etc..
Mas, não são tantas assim as livrarias voltadas para a produção de mulheres e feminismos espalhadas pelo mundo. Na América Latina esta era a única sobrevivente, entre as antigas existentes (Chile, etc). A informação é de que somam pouco mais de 60. Fico sabendo que no final de 2018 foi aberta uma em Floripa, a LIVRAS – Mulheres e Livros, que pelas fotos parece ser uma belezura! Encontrei também uma livraria e sebo virtuais, a Livraria Feminista. Sinais de um tempo em que aumenta o interesse pelos escritos das mulheres e o número daquelas que se animam a escrever e publicar. Estas são as boas notícias!
Termino oferecendo a você a música LIVROS de Caetano Veloso e a animação que a acompanha:
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*Carla Gisele Batista é historiadora, pesquisadora, educadora popular. Mestra em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela UFBA. Militante feminista, integrou as coordenações do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Articulação de Mulheres Brasileiras e da Articulación Feminista Marcosur. Publicou em 2019 o livro: Ação Feminista em Defesa da Legalização do Aborto: Movimento e Instituição, pela Annablume Editora.