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Começa hoje o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos

Mil mulheres negras se reúnem em Goiás em encontro nacional. Programação do evento discute violência, bem viver e estratégias de enfrentamento ao racismo

Mulheres negras de todo o Brasil se encontram de hoje a 9 de dezembro, em Goiânia (GO), em evento marca os 30 anos do primeiro encontro, 1988, em que mulheres do movimento negro se uniram para discutir formas de enfrentar a violência e a opressão que cerca a vida das mulheres. A realização do evento foi deliberado pelo Fórum Permanente de Mulheres Negras, que se reuniu no Fórum Social Mundial, em Salvador, na Bahia, em março deste ano.

O encontro ocorre graças a várias campanhas nacionais e estaduais de financiamento coletivo para garantir a ida das ativistas à Goiânia e também a estrutura e realização do evento. Você pode ajudar! Uma campanha online está mobilizando os recursos necessários e doações serão aceitas até o dia 10 de dezembro.

Ajude a realizar o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos

A abertura oficial será hoje, às 19h30, nas instalações da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). O esperado momento terá participação da feminista e ícone da luta pelos direitos civis nos EUA e no mundo, Angela Davis, já na mesa de abertura. Mais de mil pretas ativistas estão mobilizadas, trazendo contribuições de todos os estados do país para as reflexões em torno do tema ‘Contra o racismo e a violência e pelo bem viver – mulheres negras movem o Brasil’.

Além de debates em torno da agenda política do segmento, incluindo uma avaliação dos 30 anos de ativismo, o Encontro terá uma diversificada programação de atividades formativas, artísticas, literárias e culturais. Salas, auditórios e espaços livres serão sinalizados com nomes de lideranças históricas do movimento negro e de mulheres negras, como Luiza Bairros, Lélia Gonzalez, Carolina de Jesus, D. Ivone Lara, Fátima de Oliveira, Catarina Mina, Sílvia Catanhede e Francisca Poderosa, personalidades cuja militância, articulação política e social radicaram contribuições ímpares no movimento de mulheres negras brasileiras.

Assim, o espaço ‘Troca de Saberes Luiza Bairros’ será palco da mesa de abertura ‘Mulheres negras 30 anos: contra o racismo, a violência e pelo bem viver – mulheres negras movem o Brasil’. Nesse mesmo local acontecem as mesas ‘Avaliação 30 anos de trajetória de luta das mulheres negras: perspectivas e desafios’; ‘Fortalecimento da luta das mulheres negras: perspectivas e desafios à luz de conjunturas globais’; ‘Corpos e territórios sob ataques – reações e visões de enfrentamento ao racismo, à violência e pelo bem viver: jovens, LBT’s, quilombolas, religiões de matriz africana, encarceradas, mães e familiares de vítimas’.

Já a ‘Feira de Arte e Cultura Luiza Mahin’, aberta ao público, abrigará o ‘Palco Carolina de Jesus’ para atrações culturais, com show de abertura da cantora Nãnan Matos, além de expositoras negras de artes e artesanato, vestuários, bolsas, bijuterias e estética capilar, com trançadeiras emoldurando penteados afro no espaço ‘Fazendo a cabeça’, que remete a hábitos e costumes ancestrais de cuidados com o cabelo. Na África, os penteados sempre foram carregados de grande simbologia, indicando status, estado civil, identidade étnica, região geográfica, religião, classe social, status dentro da própria comunidade e até detalhes sobre a vida pessoal dos indivíduos.

Apresentações culturais livres terão lugar no “Palco D. Ivone Lara”, com performances das cantoras Thainá Janaina, Dani França, Nina Soldera, Sônia Ray, Luz Negra, entre outras artistas; comidas típicas de Goiás e de outros estados poderão ser encontradas na ‘Varanda Francisca’; e a exposição fotográfica “Nossos Passos Vêm de Longe” terá instalação permanente no ‘Espaço Salão Lélia Gonzalez’.

 Saúde das mulheres – Oficinas autossugestionadas de arte, dança, capoeira, música, dinâmicas culturais, técnicas de autocuidado, massagens de relaxamento e a técnica de usar pontos na pele do ouvido externo para diagnosticar e tratar dores e condições médicas do corpo, chamada de auriculoterapia, são algumas das terapias disponibilizadas no ‘Espaço Saúde Fátima de Oliveira’. A ideia é proporcionar bem-estar físico e mental, sem deslocamento de área, favorecendo a percepção e a concentração das ativistas negras nos debates e nas demais atividades do Encontro.

As mulheres contarão ainda com o ‘Espaço para Leitura’, que terá exposições, venda e lançamentos de livros de diferentes autoras negras, sessões de autógrafo, além de rodas de conversa com as escritoras Sueli Carneiro, Cidinha Silva e Conceição Evaristo, que é doutora em Literatura Comparada pela UFF, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira em confronto com a do angolano Agostinho Neto.

Escritora versátil, Evaristo cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Seus textos vêm conquistando cada vez mais leitoras e leitores. A escritora participa de publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Seus contos são estudados em universidades brasileiras e do exterior, tendo, inclusive, sido objeto da tese de doutorado de Maria Aparecida Andrade Salgueiro, publicada em livro em 2004, que faz um estudo comparativo da autora com a estadunidense Alice Walker. Em 2003, publicou o romance Ponciá Vicêncio, pela Editora Mazza, de Belo Horizonte.


O Encontro

O Encontro é organizado por entidades do movimento de mulheres negras. Desde março deste ano, ativistas do campo e da cidade, das periferias, quilombolas, religiosas de matriz africana, trabalhadoras domésticas, jovens e de todas as idades, estão realizando atividades prévias nos seus estados e atualizando a leitura de como estão os seus direitos nos lugares onde vivem e em todo o país. Elas estão mobilizadas pela ampliação de parcerias e redes de fortalecimento, pela manutenção e conquista de direitos e pela convergência de esforços no embate a todas as formas de opressão e submissão da mulher negra no Brasil.

As mulheres negras no Brasil são 55,6 milhões, chefiam 41,1% das suas famílias e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas, segundo o Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.

Serviço

O que: Programação do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos: Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil

Quando: 06 a 09 de dezembro de 2018

Onde: Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

Artigo originalmente publicado em SOS Corpomembro da AFM.