Num ano marcado por disputa eleitoral, estado de exceção, intervenção militar e índices de violência que chegam a superar os de países em guerra, as feministas brasileiras se rebelaram de diferentes formas contra o golpe, contra o neoliberalismo, patriarcado e racismo este ano.
Paralisações foram registradas em mais de 80 cidades brasileiras, ou seja, mulheres em mais de 60 cidades do interior estiveram nas ruas, visibilizando a luta feminista. Em geral, as marchas nas grandes capitais foram menores, porém foram organizadas inúmeros piquetes e ações diretas que tiveram pouca repercussão na mídia.
As mulheres rurais realizaram a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, organizada pela Via Campesina, Movimento Sem Terra, Levante Popular da Juventude e Marcha Mundial das Mulheres. Foram diversas ações diretas contra grandes corporações e latifundiários. Elas ocuparam o parque gráfico do jornal O Globo, no Rio de Janeiro, invadiram uma fábrica de roupas da Riachuelo no Rio Grande do Norte e ocuparam também a Superintendência Regional do INCRA (Instituto de Reforma Agrária) em Brasília. Em Dourado, no Mato Grosso do Sul, as camponesas fecharam o trânsito e puseram fogo na entrada da empresa de fertilizantes químicos Heringer. Em Porto Velho, Roraima, os acessos aos portos e postos de gasolina foram bloqueados. Na Amazônia, a multinacional Hydro, com sede em Belém, foi invadida, pichada e denunciada como a maior responsável do crime ambiental no município de Barcarena.
Outros agrupamentos também realizaram ações diretas. Foi o caso da invasão da Sede Administrativa da Eletrobrás Amazonas, em Manaus, ocupada pelas mulheres do movimento feminista popular que se manifestaram contra a privatização da empresa. Em Tocantins, a Assembléia Legislativa foi ocupada. Em Aracajú (Sergipe), feministas realizaram uma intervenção na porta do poder judiciário denunciando a omissão da justiça frente à violência contra as mulheres.
As indígenas também realizaram ações diretas. No norte do Maranhão, mulheres das tribos indígenas Carú, Rio Pindaré, Alto Turiaçu, dos povos Guajajaras e Kaapor, paralisaram a avenida federal, a BR 316, por mais de 3 horas. Elas leram manifestos em defesa da vida das mulheres indígenas, pelos direitos originários dos povos indígenas e em defesa dos seus territórios.
A ocupação da Casa da Mulher Brasileira de Fortaleza, no Ceará, foi um exemplo de uma ação direta com desfecho vitorioso para o movimento de mulheres. A ocupação durou cinco dias e foi resultado da culminância de um processo organizativo de uma Frente Feminista ampla, com diversos movimentos e mulheres militantes autônomas reunidas em torno da realização do ato unificado no 8 de março. Representantes estiveram em reuniões com o governador do estado para reivindicar a abertura imediata da Casa e também políticas públicas de enfrentamento e prevenção da violência contra as mulheres e ao feminicídio. O governador se comprometeu a cumprir todas as demandas das mulheres.
Em Atalaia do Norte, tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia, as feministas conseguiram realizar a primeira Marcha de Mulheres da cidade. Foi o primeiro ato feminista auto-organizado. As mulheres puderam contar com apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social, mas tiveram de enfrentar a programação oficial da Prefeitura, idealizada pela primeira-dama, que previa ações de embelezamento para mulheres, distribuição de sopas e academia na rua. A marcha foi pequena, mas teve grande repercussão na região.
As marchas nas grandes cidades conseguiram reunir bastante mulheres, como em São Paulo (20 mil), Recife (7 mil), Brasília (5 mil), Belo Horizonte (2 mil), Rio de Janeiro (2 mil) e Salvador (2 mil): na maioria dos casos, públicos menores que em 2017.