Cerca de 200 organizações da sociedade civil lançaram uma nota de solidariedade à pastora luterana Romi Bencke e ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), do qual a pastora é secretária-geral. A organização e a pastora estão sofrendo ataques por parte de católicos conservadores após o lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021.
Cerca de 200 organizações da sociedade civil lançaram uma nota de solidariedade à pastora luterana Romi Bencke e ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), do qual a pastora é secretária-geral. A organização e a pastora estão sofrendo ataques após o lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo lema é justamente a promoção do diálogo (“Fraternidade e diálogo: Compromisso de Amor”). A Campanha ocorre há 50 anos no cerne da Igreja Católica do Brasil, e é elaborada pelo CONIC a cada cinco anos.
Sobre a Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) tem sido realizada, em média, a cada cinco anos. Após deixar de ser realizada no ano passado, por causa das restrições impostas pela pandemia de coronavírus, a Campanha da Fraternidade de 2021 começa sob ataques nas redes e ações de boicote.
Com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef. 2.14) a Campanha busca “convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual.” Um dos objetivos específicos é denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as que usam o nome de Jesus.
A defesa explícita e inédita da população LGBT provocou a ira de conservadores brasileiros contra os organizadores da Campanha da Fraternidade. O ataque é promovido por grupos católicos ultraconservadores, que se revoltaram com o protesto da iniciativa religiosa contra a violência sofrida pela população LGBTQI+ e atingiu principalmente a pastora Romi Bencke.
A pastora deu entrevista a revista Metropóles sobre o caso: “Ninguém precisa concordar com a forma como o texto está escrito. Ter pensamentos diferentes faz parte da liberdade de expressão, e não impede que a gente converse sobre esses temas. Divergências de opinião tá tudo bem, o que eu não aceito é o ataque de ódio”, salienta, citando extremistas que usam a internet para atingir milhares de pessoas em uma campanha de difamação contra ela e contra a Campanha da Fraternidade.
“Um dos objetivos da campanha é a denúncia da utilização do nome de Jesus para fundamentar uma cultura de ódio. E a gente sabe que boa parte da discriminação contra pessoas LGBTQI+ e também contra as mulheres se vale do discurso religioso cristão para se legitimar. Então, numa campanha sobre diálogo, seria, sim, praticamente impossível não tocar nesses temas que são tabu” (Romi Bencke em entrevista à Metrópoles).
Carta de apoio à Romi e ao Conic
Vimos a público manifestar nossa solidariedade à pastora luterana Romi Bencke e ao Conselho de Igrejas Cristãs do Brasil, CONIC, que vêm sendo difamados nas redes sociais por grupos neoconservadores católicos.
Nos últimos dias, fomos surpreendidos por vídeos em que a pastora Romi e o CONIC foram atacados por seu papel na concepção da Campanha da Fraternidade Ecumênica, CFE, deste ano, cujo lema é justamente a promoção do diálogo “Fraternidade e diálogo: Compromisso de Amor”.
A Campanha da Fraternidade ocorre no cerne da Igreja Católica do Brasil há mais de 50 anos e, a cada cinco anos, é elaborada pelo CONIC.
Neste ano, foi pensada por um grupo de oito representantes de igrejas e movimentos cristãos brasileiros, entre eles: Igreja Católica Apostólica Romana, por meio da CNBB; Aliança de Batistas no Brasil; Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Presbiteriana Unida; Sirian Ortodoxa de Antioquia; Igreja Betesda (igreja convidada); e CESEEP, organismo ecumênico.
A campanha tem como objetivos: denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as violências cometidas em nome de Jesus; encorajar a justiça para a restauração da dignidade das pessoas, para a superação de conflitos e para alcançar a reconciliação social; animar o engajamento em ações concretas de amor à pessoa próxima; promover a conversão para a cultura do amor em lugar da cultura do ódio; e fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa.
A campanha também repudia o racismo, a misoginia e outras formas de violência que aprofundam a cultura de ódio, e, por isso, vem sendo chamada de “revolucionária” por seus detratores.
O CONIC, que nasceu em 1982, em Porto Alegre, é um órgão que congrega igrejas cristãs de várias denominações. Um dos seus principais objetivos é fomentar um diálogo ecumênico que favoreça uma interlocução com organizações da sociedade civil e governo em prol de políticas públicas que viabilizem a paz e a justiça.
O CONIC também possui forte atuação na defesa do Estado laico, entendendo que só um Estado que respeite a pluralidade e a diversidade religiosa é capaz de promover a paz em seu território.
A pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC, é a primeira mulher a assumir esse cargo no Brasil. Sua trajetória e seu serviço pastoral culminam nos valores que cremos e defendemos: a promoção do diálogo ecumênico/religioso e a defesa dos Direitos Humanos.
Os grupos e organizações da sociedade civil que assinam essa nota atestam o compromisso da pastora Romi e do CONIC com os valores da paz, da justiça, do diálogo e do respeito às diversas crenças, e repudiam qualquer tipo de violência e difamação contra a pastora, os coordenadores da Campanha da Fraternidade, ou a Campanha em si.
Veja os signatários da carta de solidariedade: https://soscorpo.org/?p=13610