Manifesto da Coalizão Negra Por Direitos, organização autônoma que reúne diversas organizações do movimento negro, lança manifesto que exige a erradicação do Racismo como prática genocida contra a população negra no Brasil. (Port / Esp)
Mesmo durante a pandemia, ainda existem casos de assassinato de pessoas negras (sobretudo da população jovem) por violência policial, como as mortes recentes de João Pedro, de 14 anos, que estava em casa em isolamento social quando foi atingido por um tiro de fuzil, e de Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, morto durante a distribuição de cestas básicas no Morro da Providência, localizado no centro do Rio de Janeiro. Em ambos os casos, os jovens morreram durante a realização de operações da polícia militar em comunidades periféricas ou em áreas empobrecidas.
Leia aqui a versão em português.
Nosotras y nosotros, la población negra organizada, mujeres negras, faveladas, marginales y periféricas, LGBTQIA +, que profesamos religiones de matriz africana, quilombolas, negras y negros con diferentes confesiones de fe, pueblos del campo, de las aguas y los bosques, trabajadores explotad@s, informales y desemplead@s en coaliciones negras por los derechos, nos hacemos públicas para exigir la erradicación del racismo como práctica genocida contra la población negra.
Brasil es un país en deuda con la población negra: deudas históricas y actuales. Por lo tanto, cualquier proyecto o articulación por la democracia en el país requiere un compromiso firme y real para combatir el racismo. Hacemos un llamado a los sectores democráticos de la sociedad brasileña, a las instituciones y a las personas que hoy muestran indignación y hartazgo de los daños del racismo y afirman ser antirracistas: sean coherentes, practiquen lo que dicen. Únanse a nosotras y a nosotros en este manifiesto, a las iniciativas de resistencia histórica y permanente y a las propuestas que defendemos como forma de construir la democracia organizada en nuestro programa.
Esta convocatoria es aún más urgente en medio de la pandemia de Covid-19, porque sabemos que la población negra es el sector más expuesto. Cuando se enferman son los que más mueren, ampliando las filas de las y los desempleados, agravada esta situación por el desmantelamiento de las políticas sociales. En medio de la pandemia, no puede ignorarse más el debate racial.
En este momento, cuando diferentes sectores se unen en defensa de la democracia contra el fascismo y el autoritarismo, y para el fin del gobierno de Bolsonaro, es extremadamente importante considerar el racismo como un tema central.
“Vamos a denunciar públicamente las malas condiciones de vida de la comunidad negra”. Este extracto, tomado del manifiesto fundacional de julio de 1978 del Movimiento Negro Unificado contra la Discriminación Racial, es una prueba de que nunca hemos sido escuchados y de que siempre estamos por nuestra propia cuenta.
Esta es una lucha que no comienza aquí, pero que se ha materializado en el pensamiento y las acciones de hombres y mujeres que en todos los momentos históricos en que la brutalidad se ha impuesto sobre el nuestro pueblo gritaron y dijeron: ¡NO!
No hay democracia, ciudadanía, ni justicia social sin un compromiso público del reconocimiento del movimiento negro como sujeto político que reúne la defensa de la ciudadanía negra en el país. No hay democracia sin enfrentar el racismo, la violencia policial y el sistema judicial que encarcela desproporcionadamente a la población negra. No hay ciudadanía sin garantizar la redistribución del ingreso, el trabajo, la salud, la tierra, la vivienda, la educación, la cultura, la movilidad, el ocio y la participación de la población negra en los espacios de poder de toma de decisiones. No hay democracia sin garantías constitucionales para la titulación de los territorios quilombolas, sin respeto por la forma de vida de las comunidades tradicionales. No hay democracia con contaminación y degradación de los recursos naturales necesarios para la reproducción física y cultural. No hay democracia sin respeto por la libertad religiosa. No hay justicia social cuando las necesidades y los intereses del 55,7% de la población brasileña se encuentran lejos de estar plenamente satisfechos
El racismo debe ser rechazado en todo el mundo. El brutal asesinato de George Floyd lo demuestra, con las revueltas, manifestaciones e insurrecciones en las calles y la demanda de justicia racial. En Brasil, nos solidarizamos con esta lucha y con estas protestas y exigimos justicia para todas y todos nuestros jóvenes y para la población negra. Y, entre muchos que no podemos olvidar, ¡João Pedro está presente!
En nuestro pasado formamos quilombos, forjamos revueltas, luchamos por la libertad, construimos la cultura y la historia de este país. Hoy, estamos luchando por una verdadera democracia, el ejercicio del poder por la mayoría, y convocamos a la firma y a la acción, a todas aquellas personas que estén sintiendo este dolor en carne propia, a quienes ya tuvieron suficiente de maltrato, a quienes se sientan rabiosamente indignados por las injusticias de nuestro país.
Créditos da tradução: Yanna Sophia – PCN na Colômbia
O racismo institucional no Brasil está incontrolável
O racismo enquanto estrutura presente na formação social do Brasil tem se revelado a verdadeira pandemia no atual contexto de crise política que o país enfrenta. Enquanto um dispositivo do projeto colonial de desenvolvimento da sociedade, o racismo institucional, validado pelo processo histórico, social, econômico, simbólico e cultural, tem encontrado no sistema jurídico brasileiro todas as brechas para se manter incontrolável, como afirma a intelectual negra brasileira, Joice Berth.
A violência racista está presente não apenas no braço armado do Estado, como também em outras dimensões da vida cotidiana que marcam as relações sociais. É o que revela o caso da morte do menino Miguel, de apenas 5 anos, negligenciado pela empregadora de sua mãe, na cidade de Recife, e que ganhou repercussão nacional quando revelada a sua identidade. Sari Corte Real, que foi presa por homicídio culposo e pagou uma fiança de R$ 20 mil para ser liberada, estava tendo sua identidade preservada tanto pela polícia quanto pela grande mídia.
Ela é esposa do prefeito da cidade de Tamandaré, no litoral de Pernambuco, agiu de forma dolosa ao abandonar a criança no elevador e direcioná-la ao nono andar, mesmo sob pedidos de cuidado da mãe, Mirtes, que trabalhava como empregada doméstica da primeira-dama. Miguel, que caiu do alto do prédio, tinha ido trabalhar com a mãe, que não teve seu direito de passar a quarentena em casa, com o filho, por não ter sido dispensada de maneira remunerada pela família Corte Real. Ao atender a ordem da empregadora de ir passear com os cachorros, Mirtes deixou Miguel sob tutela de Sari.
O caso, como descrito pela nota emitida pelo SOS Corpo Instituto Feminista pela Democracia, revela o contexto complexo que a luta antirracista no Brasil precisa enfrentar para garantir a democracia.
Profundamente consternadas, nos somamos às milhares de pessoas que estão em revolta e compartilhando da dor da mãe de Miguel, uma criança preta periférica do Recife, mais uma vida inocente que tomba neste país por conta da violência racista. Nos somamos às milhares vozes que, em repúdio, gritam: ACABOU! Não há mais espaço para este racismo que estrutura a sociedade brasileira. Queremos #JustiçaParaMiguel!
Ele, de apenas 5 anos, filho e neto de trabalhadoras domésticas é mais corpo jovem negro que sofre as sequelas do projeto colonial brasileiro, que segue a todo vapor na nossa sociedade. São vidas negras as que mais estão sendo perdidas pelos casos de Covid-19. São as vidas negras e indígenas que desde o início do projeto civilizatório do Brasil, estão na linha de frente do desprezo da branquitude classita. São as vidas ceifadas pela ordem do capital, por um sistema triplamente opressor em suas dimensões de raça/etnia, classe social e de gênero.
E é preciso dar os nomes: Sarí Gaspar Côrte Real, empregadora da mãe de Miguel é uma mulher branca, rica e primeira-dama do município de Tamandaré. Mesmo tendo o esposo, prefeito de Tamandaré, diagnosticado com coronavírus, não liberou as trabalhadoras de maneira remunerada para que elas pudessem se preservar. Sem ter com quem deixar a criança, a mãe de Miguel o levou para o trabalho e de lá ele não voltou para casa. Ao ser deixado com Sarí enquanto a mãe cumpria ordens para passear com os cachorros, Miguel foi negligenciado pela primeira-dama, que facilitou a chegada da criança ao elevador.
Colocando os pontos nos lugares certos, Sarí Gaspar Côrte Real tem todos os seus privilégios garantidos pela cor da sua pele. No conforto de seu apartamento de luxo, agiu de maneira culposa ao abandonar a criança, mesmo sob pedido da mãe de Miguel. Ela é a responsável por essa morte e por isso exigimos o devido julgamento. As vidas negras não podem mais ser menosprezadas. Por isso, BASTA!
#VidasNegrasImportam #JustiçaParaMiguel
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