De 24 a 28 de abril mais de 4 mil indígenas de quase 200 povos de todas as regiões do país se reuniram no 14º Acampamento Terra Livre (ATL). A mobilização foi a maior mobilização feitas pelos povos originários até hoje na capital federal brasileira e contou com ampla cobertura da mídia alternativa, além de transmissões ao vivo das assembléia e plenárias.
“Reafirmamos que não admitiremos as violências, retrocessos e ameaças perpetrados pelo Estado brasileiro e pelas oligarquias econômicas contra nossas vidas e nossos direitos, assim como conclamamos toda a sociedade brasileira e a comunidade internacional a se unir à luta dos povos originários pela defesa dos territórios tradicionais e da mãe natureza, pelo bem estar de todas as formas de vida”, diz o documento final do acampamento.
Na tarde do dia 25 os povos indígenas fizeram uma marcha político-cultural pelos seus direitos e demarcação de terras em frente ao Congresso, na qual levaram inúmeros caixões representando as lideranças indígenas assassinadas pelo Estado e pelas elites do agronegócio e latifundiários brasileiros. As mulheres, crianças, homens e idosos que participavam da manifestação foram recebidos pela Polícia Militar com bombas, spray de pimenta e balas de borracha.
Num país como o Brasil, capitalista e construído pelo genocídio indígena e escravização da população negra, a luta por direitos para as classes populares vai se tornando alvo do ódio da classe dominante. O país foi estruturado sob o latifúndio das capitanias hereditárias, por isso a questão da terra e territórios é uma luta que põe fortemente em xeque o patriarcado que aqui se instalou. O patriarcado latifundiário racista é herança do branco invasor, que se moderniza na forma de agronegócio, e que persiste nas mesmas práticas coloniais: invasão e genocídio para expropriação de territórios. Com forte bancada no Congresso Nacional, a força patriarcal e racista do latifúndio moderno tenta bloquear direitos e impor legislação que lhes favoreça.
Oficina de comunicação fortalece mulheres que vivem em territórios ameaçados
A situação das mulheres que vivem longe dos grandes centros urbanos no Brasil é de extrema vulnerabilidade. Um país assolado pelo latifúndio e pela especulação imobiliária não permite que haja espaço para sobrevivência de comunidades tradicionais, tais como indígenas, quilombolas e de pescadoras. Além das constantes ameaças e assassinatos denunciados por estes povos, as mulheres que vivem nessas comunidades praticamente isoladas enfrentam também sofrem uma dura realidade machista e patriarcal.
Para enfrentar essa situação o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia em parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) convidou representantes mulheres de 20 movimentos brasileiros das regiões Norte, Nordeste e Centro do país que organizam a luta por territórios. O objetivo de aproximar, fomentar alianças e pensar estratégias de comunicação externas e segurança na comunicação interna dos seus movimentos.
A oficina, ministrada de 10 a 13 de maio em Recife pelas educadoras feministas do SOS Corpo Silvia Camurça, Paula Andrade e Déborah Guaraná, prevê também um processo continuado de mais seis meses de acompanhamento das produções realizadas de maneira independente pelas mulheres que participaram do curso.