Resistimos e resistiremos em favor da democracia, da solidariedade e da justiça! Esta é a orientação inescapável para as organizações de mulheres, para o povo preto das periferias das cidades, quilombolas, indígenas, população LGBTs e milhões de pessoas da classe trabalhadora em geral. Todas/os vimos nas eleições de 2018 para presidência do Brasil a derrota de uma possibilidade de governo que estivesse mais próximo da recuperação de direitos perdidos desde o golpe em 2016.
Os embates, antes e nas eleições, desvelam a força da intolerância, da misoginia, da lesbo-homofobia e do racismo estrutural na sociedade brasileira, ao mesmo tempo que confrontaram os vícios impostos pelo poder judiciário ao processo eleitoral. Da questionável inconstitucionalidade da prisão de Lula à fraca reação sobre uso de financiamento irregular para campanha nas redes sociais, passando também pela recente nomeação de Moro como Ministro do novo governo, está revelado que as eleições aconteceram como uma etapa do golpe, ‘pintando’ a difusão da agenda ultra-neoliberal como caminho necessário, aprofundando o autoritarismo e a desqualificação das forças progressistas.
Mas não sem resistência. As mulheres emergiram de novo na arena política de 2018, com força e como força política: o #EleNão e as pesquisas revelam que as mulheres, em especial as jovens, estão entre a grande parte da população que resiste e nega opções autoritárias, intolerantes e anti-direitos humanos. A sociedade civil, apesar de perplexa com a selvageria e os anúncios de medidas do pacote Bolsonaro, está disposta a resistir. Mobilizações nas universidades, nas praças e avenidas, nas redes sociais, reuniões e articulações políticas têm sido capazes de reduzir o clima de medo que se instalou após 28 de outubro e ampliar as forças da resistência.
É provável que tenhamos um governo de orientação fascista ultra-neoliberal: extremo autoritarismo com estímulo à violência e acirramento da criminalização dos movimentos sociais; políticas anti-bem estar e seguridade social e aceleramento na implementação da agenda regressiva do golpe; construção de inimigo externo e interno com fortes conotações racistas e anti-esquerda; promoção da indiferença, da irrelevância e da violência contra grupos específicos, como no nosso caso o grupo social LGBT, nordestinos e populações em situação de pobreza, além de ameaçar seus dissidentes e opositores, como a classe docente com propostas como a da “escola sem partido”.
Mas este programa poderá rapidamente levar à decepção de grande parte da população, por não responder, no curto prazo, ao desemprego, nem à violência e nem à precarização das condições de vida. O anúncio de algumas medidas já começa a gerar descontentamento e lançar dúvidas. Já se mostram graves problemas nas relações externas e reações frente às propostas beligerantes do novo governo. O deslocamento da agenda social, que é parte do interesse das pessoas, para uma agenda moral, sobre ensino nas escolas, ou ódio ao PT, o bode expiatório da vez, não será suficiente para alimentar o apoio ao ultraliberalismo como saída inevitável para esta crise.
Além disso, será difícil para o governo criar unidade política interna à equipe fazendo negociação de cargos com a centro direita, sem decepcionar o eleitorado para o qual prometeu não fazer nada da ‘velha política’. E há ainda o desafio de conciliar fascismo com os liberais: estes não tem qualquer interesse de ver um governo fascista abalar a crença no neoliberalismo por meio de um liberalismo extremo associado à violência, e pior ineficaz para a chamada ‘crise fiscal’. Há rachaduras no que aparece na superfície como apoio amplo ao ‘Bolsonarismo’.
Resistir é preciso e possível. Por entre estas brechas nos muros da intolerância seguirá o feminismo com as outras forças da democracia. Estaremos juntas.