Chegamos a mais um Julho das Pretas! Nós, da Articulação de Mulheres Brasileiras, viemos nos somar às mulheres negras do Brasil e da América Latina e do Caribe para afirmarmos nossa luta feminista antirracista, antipatriarcal e anticapitalista.
Por Articulação de Mulheres Brasileiras (membro da AFM)
O Julho das Pretas é uma ação de visibilização do dia 25 de julho, para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
No Brasil, A Rede de Mulheres Negras do Nordeste impulsionou a data como um mês de luta das mulheres negras e a AMB, em seu compromisso feminista de enfrentar o racismo, se soma a esse chamado, unificando nossas agendas de lutas antirracistas e antissistêmicas.
O Brasil é um país dos mais desiguais do mundo, do ponto de vista das relações entre brancas(os) e negras(os), entre homens e mulheres e entre trabalhadoras(es), e onde o racismo segue demarcando de forma estrutural essas desigualdades. É preciso que o percentual mínimo dos mais ricos do planeta repensem sua ganância, satisfeita em detrimento do descarte de seres humanos e que nossa política seja de fato construída para atender as demandas da maioria da população planetária.
Vivemos uma conjuntura de empobrecimento, marcada por mortes e assassinatos do povo preto brasileiro, um verdadeiro genocídio da juventude preta e periférica, praticado pelas forças do Estado, como há décadas os movimentos negros denunciam e alertam ao conjunto de nossa sociedade. Sempre foi difícil, mas o grau de opressão racial e de violência que atinge as mulheres negras é assustador. Assiste-se a morte cotidiana de filhas e filhos de famílias pretas, seja por feminicídio, genocídio, covid e/ou fome.
Não conseguimos o mínimo, que é respirar!
São direitos básicos negados e retrocessos nas conquistas obtidas com muita luta. Nossas referências intelectuais, culturais e de lutadores pretos e pretas estão sendo apagadas da Fundação Palmares, que só representa o racismo institucional do Governo Bolsonaro.
Ainda temos diversos casos de trabalho doméstico análogo à escravidão sendo expostos diariamente, evidenciando-se a cumplicidade das elites econômicas.
O Brasil vem adotando, como medida pública, o genocídio e o hiper encarceramento, juntamente com quase 600 mil vidas perdidas na pandemia, entre as quais 66% são de pessoas negras.
Nós exigimos a votação, pelo Congresso Nacional (Câmara de Deputados e Senado), do impeachment desse governo fascista, racista, lgbtqia+fóbico e misógino. Mais que isso, dizemos não ao militarismo instalado nos poderes públicos e defendemos um governo civil, também com a apreciação de proposta legislativa que exige eleições em caso da derrubada de Bolsonaro. Nós da AMB, sempre questionamos as eleições dentro de um golpe, exigimos a cassação da chapa Bolsonaro e Mourão e defendemos a derrubada de todo seu governo e das forcas bolsonaristas! Também denunciamos a negligência e mesmo a conivência dos poderes públicos que permitem a política intencional deste governo autoritário e que se evidencia cada vez mais misógina, racista em sua operação da necropolítica cotidiana no não acesso às vacinas e, em não proteger a população mais vulnerável da pandemia.
Também repudiamos as ameaças de morte e agressões às parlamentares trans e cis negras e exigimos medidas concretas para acabar com a violência política contra nós!
Reivindicamos a publicidade das apurações da Chacina do Jacarezinho, exigimos Justiça por Miguel e queremos saber quem mandou matar Marielle Franco e por quê? Dezenas de mães pretas enterraram suas filhas e filhos no Dia das Mães! Exigimos que nossos corpos negros não sejam mais os alvos do braço armado do Estado.
Basta de assassinatos das crianças, jovens e pessoas adultas negras pelas polícias. Chega de ver o encarceramento em massa do povo preto ser naturalizado e a miséria que se agrava cada dia com o governo fascista e genocida de Bolsonaro sendo um projeto vitorioso. As mulheres pretas querem vidas com dignidade, vacina, fim da violência racista e bem viver!