Uma das ferramentas que possibilitou o crescimento do feminismo foi o universo online. A conexão oferecida através das mídias sociais e aplicativos digitais nos ofertam interatividade, diminuem as distâncias, propiciam espaços de debate e estão ressignificando o conceito de esfera pública.
Levados pela perspectiva desenvolvimentista, a sociedade se rendeu ao uso das tecnologias como se elas fossem inevitáveis e poucos se esforçam para enxergar além do discurso que o mercado vende e publiciza sobre essas redes. Abraçamos a tecnologia no cotidiano e agradecemos ao facebook, ao whatsapp, ao instagram por nos pôr em contato com o mundo.
Mas e quando esse mundo online nos ameaça? Como lidar com as diversas violências vivenciadas por nós, mulheres, ativistas, no espaço virtual? Como construir uma internet feminista? Permanecemos atuando em redes dominadas pelos sistemas patriarcal, racista e capitalista ou nos retirarmos delas? Se nos retiramos, como dialogar com outras mulheres e segmentos para além de nossos movimentos? Com quais redes precisamos nos conectar nos níveis de AL e outras de Ásia, África para avançarmos na discussão da segurança digital e do ciberativismo? Estas foram algumas das questões que permearam os dois momentos de debate sobre segurança digital realizados no 14 EFLAC pela Universidade Livre Feminista, juntamente CFEMEA, Marialab, Blogueiras Negras, Marialab e SOS Corpo.
Companheiras do México, Argentina, Uruguai, Guatemala, Colômbia, Chile e Brasil compartilharam situações de abuso de meninas e mulheres na redes, ameaças a militantes feministas e ativistas de direitos humanos em seus países e algumas estratégias de proteção e autocuidado de coletivos feministas. Ficou evidente a necessidade de mudança de comportamento em relação ao nosso ativismo na internet, especialmente nas redes sociais. Criar senhas nos celulares, perfis e páginas no Facebook que não forneçam informações que ameace a nós e a nossos coletivos, criptografar nossas comunicações são alguns dos primeiros passos para estarmos no mundo digital de forma mais segura.
Outra questão debatida foi sobre a necessidade de dialogarmos mais sobre estas questões e realizarmos momentos presenciais, como oficinas e rodas de conversa sobre o tema. Além da campanha, foi lançada a Guia Prática de Estratégias e Táticas para a Segurança Digital Feminista, publicação eletrônica com o objetivo de proporcionar às mulheres maior autonomia e segurança na internet, apresentando estratégias e táticas de defesa digital para feministas. Os conteúdos são dirigidos para o público de mulheres da América Latina e foram elaborados considerando diferentes mulheres: negras, trans, lésbicas, ativistas/ militantes de movimentos organizados de mulheres ou que atuam individualmente na rede, sendo de periferias urbanas, rurais, com distintos níveis de acesso à tecnologia nas suas abordagens.