O debate abordou os desafios da busca por paridade e as pautas relacionadas à autonomia das mulheres nos espaços representação política institucional. Foram ressaltadas as diferenças na luta por autonomia centrada numa perspectiva crítica da luta feminista que demanda direitos em diálogo com as instituições, o estado e as políticas públicas, daquela que se pauta numa luta mais autonomista do movimento.
Autonomia significa conectar-se consigo mesma. De que maneira queremos exercer nossa autonomia como seres sociais? Para que queremos exercer o poder? Como queremos exercer? Queremos um poder em conjunto! Uma palavra chave para autonomia é partilha!
A consignia Diversas pero no Dispersas é uma aposta na construção dos feminismos a partir dessa diversidade, reconhecendo nossas diversas lutas. O sentido de autonomia para os povos indígenas, por exemplo, dialoga com as perspectivas mais horizontais e faz referência a um feminismo desde e para nossos corpos. Autonomia é um ideal muito distante na vida cotidiana das mulheres nas comunidades. Nas comunidades brasileiras, as mulheres são muitas vezes dominadas por seus maridos e pais… para sermos autônomas temos de lutar dentro de nossas comunidades para acessar conhecimento e dialogar com as demais mulheres. Construir autonomia é lutar e conversar com mulheres nas comunidades! Neste sentido, a construção de uma proposta política autonomista deve dar mais visibilidade às vivências das mulheres indígenas em seus territórios, que não são valorizadas nas pautas feministas mais amplas. Os espaços feministas seguem em dívida com as indígenas campesinas, pois as práticas políticas tradicionais, muitas vezes classistas, não permitem a participação dessas mulheres e, portanto, não incluem suas demandas.
Parte da proposta autonomista é dizer com quem queremos estar, com quem queremos debater política. Antes pensávamos que autonomia era a transformação do sistema político, mas autonomia também é a capacidade de fazer política a partir de nós mesmas e para nós mesmas. Que propostas de transformação partem de nós para nós mesmas? Temos uma capacidade de nos organizarmos em nossa diversidade, desde as opressões que sentimos (do patriarcado, das igrejas…) para um projeto autônomo de poder que seja nosso.
Vivemos um momento político importante agora, com novas eleições, mas o estado capitalista patriarcal segue nos oprimindo, com tantas formas de controle sobre nossas vidas que se refletem nas taxas de violência e feminicídio muito altas. Queremos nos organizar e fazer mudanças desde baixo, com uma perspectiva coletiva para dessa forma construir nossa autonomia. Não acreditamos no poder institucionalizado, patriarcal e opressor. A participação das mulheres nos movimentos nos diz que temos de ampliar e transformar a forma de se fazer política. Ir além do debate sobre paridade institucional que não inclui todas as mulheres em sua diversidade. Temos que construir espaços de auto-gestão onde nos sentimos todas incluídas.
Texto produzido por la AFM y la Coletiva de Comunicação da Articulação de Mulheres Brasileiras